O terceiro mundo mental

Os seguidistas distinguem-se dos seguidores por não pensarem sobre aquilo que seguem. Os seguidistas não seguem porque acreditem, se identifiquem ou reconheçam lógica numa doutrina. Seguem porque estão habituados a seguir. É assim, pronto. Entram às 9 e saem às 5 ou às 7 ou às 9 ou às 11, não interessa, porque há-de vir uma ordem de cima que os oriente totalmente. Também não interessa quem emite a ordem, desde que apareça.
Os seguidistas são inseguros. Não aprenderam a pensar sozinhos e só superficialmente se responsabilizam pelo que realizam. A responsabilidade pertence ao emissor das ordens que cumprem e não questionam, porque não estão ali para questionar. Não lhes pagam para isso, e mesmo que pagassem. Dá-lhes jeito que o caminho a seguir esteja escrito num manual de regras ou que alguém lhas traga como indiscutíveis. Eu passo a vida a cruzar-me com seguidistas, e por isso a minha vida é difícil. Como gostam da Lei costumo perguntar-lhes "onde é que isso está escrito", e eles não desarmam: "São as ordens que temos". Ordens de quem? Ah, alguém de cima. Alguém superior a nós, querem eles dizer. Alguém com mais poder, logo melhor. Sofro. Há pessoas superiores a mim em muitas coisas: em bondade, paciência, tolerância, inteligência, organização, capacidades diversíssimas e por aí fora, e reconheço essa superioridade quando a encontro, o que acontece com frequência. Tenho os meus limites, por isso não questiono a superioridade alheia, mas gosto de perceber as ordens que me transmitem; em que se baseiam; servem para quê. Se me mandam assentar blocos com argamassa de gesso quero perceber porquê, uma vez que aprendi a fazê-lo com cimento. Expliquem-me, por exemplo, que o gesso cola os tijolos melhor, para além de ser um material mais leve. Que garante a segurança das estruturas de igual forma. Não faço ideia. Sou uma cidadã e uma profissional, portanto, nos aspectos públicos e profissionais, estou interessada em actualizar-me - há coerência na excelência. Tal como informação e justiça. Tenho a mania de gostar de perceber, de apreciar que dialoguem comigo, que me considerem pessoa. Os seguidistas gostam de ser números. Quanto mais números menos gente. O importante é não dar nas vistas.
O mundo está cheio de seguidistas. Toda a gente conhece meia dúzia deles. Em Portugal, e na maior parte dos países do terceiro mundo mental, o seguidismo é uma praga. Não conseguimos livrar-nos deles, podemos é recusar ser iguais.

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