Paris - diário de viagem 6

Campos Elíseos


Saí de casa sem me pentear. Esqueci-me. Ninguém reparou. Estou sempre igual, mesmo quando me penteio.
Tenho sentido fortes dores na anca. Vou para a rua e caminho até que os analgésicos façam efeito. A certa altura a dor acalma e posso sentar-me no café a ler ou a escrever.

Estou a envelhecer. Da última vez que vim a Paris, creio que há três Verões, ainda não precisava de óculos para ver ao perto. Agora, peço a Gilbert que me diga qual é o melhor autocarro para a Porte Maillot. Esta perda de faculdades é o que mais me assusta.

Nos últimos dias tenho passeado a pé e de autocarro pelas ruas, sem objectivo, o que é bom. Ontem procurei na net informação sobre o que é essencial em Paris, a não perder, e descobri que o que me interessa já visitei, agora ou antes, portanto posso dedicar-me a fazer nada.
Quis voltar ao Louvre, mas foi impossível. Havia uma fila de entrada que me obrigaria a uma espera de pelo menos uma hora. A mesma coisa em Notre Dame, pelo que desisti sem insistir. Filas, nem pensar. Paris não foge.

Guardei algumas impressões dos últimos dois dias, que recordo neste momento, e não serão as mais significativas: os pombos deitados ao sol na relva dos jardins; o facto de escutar frequentes referências a Salazar, quando o que dizem é Saint Lazare; os sem-abrigo alienados, que já cá não estão; os saltos altos das raparigas muito magras e muito louras; as lojistas luso-francesas que falam umas com as outras, em português mal treinado, sobre os maridos e os filhos, porque o país muda, mas o universo mental não.



Jardim das Tulherias

Marais

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