Paris - diário de viagem 7


Desde a semana passada registou-se certa alteração na dinâmica da cidade, ou pelo menos na do meu arrondissement, situado perto da Place Charles de Gaule - Arco do Triunfo.

As lojas não relacionadas com os géneros ou serviços essenciais fecharam para férias. Há ruas inteiras cujo comércio cerrou portas. Restaram os cafés, porque os parisienses podem viver alegremente num sexto andar sem elevador, mas sem café, não; restaram, também, alguns restaurantes; farmácias; mercearias e mini-mercados. O café cá de baixo, onde os russos bebiam e cantavam até às duas da matina, encerrou. Os meus vizinhos do prédio da frente, que estavam já habituados a ver-me por casa semi-nua, desapareceram - agora têm lá em casa uns ingleses cujo barulho substitui o dos russos.

A vida cultural, por outro lado, continua radiosa, a avaliar pelo Pariscope.

O número de turistas aumentou visivelmente no centro, zona onde, neste momento, é quase impossível andar. Os japoneses, sempre em grupo organizado, invadem tudo, como formigas. Precisávamos, em Portugal, de nos tornar um grande destino turístico, como é a França, para melhorarmos as finanças. O ano passado o Louvre foi visitado por quase 9 milhões de pessoas. Passei junto à Ponte Eiffel de autocarro, seriam umas nove da noite, e a acumulação de pessoas não envergonharia um concerto dos Rolling Stones com primeira parte dos Tokio Hotel. Não se tratava apenas dos que faziam fila para entrar, mas daqueles que ocupavam todo o Champs de Mars, em pé, sentados, conversando, comendo. Eram largos milhares de pessoas.

Mas para nos tornarmos um dos grandes destinos turísticos de mundo, precisávamos de uma dimensão de grandeza que não temos. Não somos assim. Não pensamos assim. Precisávamos de grandes arcos comemorativos em lugar de rotundas desvalorizadas. De grandes museus, De grandes torres que até podem não servir senão para vistas e decoração. De uma boa relação com o nosso rio Tejo, por exemplo. Uma outra relação com o rio, só isso, traria para Lisboa muita gente.
Há uns bons anos apanhei boleia de uns holandeses, no norte de Portugal, que me diziam que sim, que gostavam de Portugal, mas que quando chegassem à sua terra não saberiam que símbolo levar de Lísboa: não havia um Big Ben, uma Estátua da Liberdade, um Coliseu, uma Torre Eiffel. Falei-lhes no ambiente da cidade, nas cores, na luz. Concordaram, mas nada disso se materializava num souvenir. Penso que as nossas campanhas de turismo interncional deveriam reflectir sobre a ausência de símbolos arquitectónicos. Por que não os temos? Por que não pensamos nisso? E o que temos nós de grandioso, de tremendamente interessante, e a que nível, para que os outros desejem visitar-nos.

Não é que me apetecesse ter Lisboa, o país inteiro, cheio de turistas, como neste momento está a França, mas que nos dava muito jeito, dava.

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