A menina do bar

 Para a menina do bar e para as minhas colegas dos sorrisos e dos abraços. 


 Imagem: @ Paulo Sérgio BEJu


Uma colega apanhou-me sentada num dos computadores da sala dos diretores de turma e abraçou-me de costas. Fiquei no ninho dos seus braços quentes, enquanto a ouvia dizer "a minha menina precisa de abracinhos". Os colegas de artes e eu temos uma aliança silenciosa. Conhecemos o mesmo segredo mas não temos vocábulos para o comunicar.
Tenho colegas que me sorriem com bondade e compreensão. Sobretudo as mulheres, o que parece contrariar tudo o que o vulgo afirma sobre as relações laborais no feminino. 
Também aqui tenho dez centímetros de papel de tabuleiro onde, há semanas, a menina do bar escreveu a seguinte mensagem: "Um sorriso para alegrar o seu dia". Fez o desenho de uma boneca com um grande smile de boca aberta. Tudo a esferográfica azul. Dobrou o papelinho e meteu-mo no bolso do casaco. Deve ter sido uma altura em que não consegui esconder a tristeza. Li-o, entrei para o lado de dentro do balcão e abracei-a com força, porque ela me viu.
No outro dia perguntou-me como ia de amores e contei-lhe que já não tinha namorado. Disse-me, "deixe lá, isso passa", e à tarde, quando me voltou a ver, já me escrevera um papelinho dobrado, como os que os alunos passam nas aulas. Quando cheguei ao carro desdobrei-o e li: "Ainda é jovem e bela e o seu príncipe está para vir." Sorri. Coisinha mais linda! A menina do bar tem trinta e tal.
As pessoas não são só malvadas por natureza ou viciosas nem passam a vida a armadilhar-se. O mundo está cheio de almas bonitas, ainda simples e autênticas, que me dedicam generosidade. Nunca serei capaz de responder com justiça a estes fluxos de afeto desinteressado, mas sinto o impulso que os motivou. Não fazem de mim uma pessoa feliz, mas compreendo ser uma afortunada.

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