Dinamitar o Cristo Rei?


Nossa Senhora tem andado em digressão pela Margem Sul por mor da comemoração do cinquentenário da construção do Cristo Rei.
Confesso que não foi assim que a minha mãe me contou à hora do almoço.
Falou-me do representante do Papa, e de muitos cardeais, e do bispo de Setúbal a elogiar a nossa presidenta da Câmara, e de muitos, muitos padres de todo o lado, e procissões, e que em Lisboa também tinha sido muito lindo, que a Senhora tinha ido a um hospital, e muita gente, muita gente, tudo muito lindo, muito lindo, como é que era possível que eu não tivesse ficado em casa a seguir tudo pela televisão.
Fui ouvindo isto entre as favas com salada de alface e pescada frita, e só me pronunciei quando chegou a parte em que me revelou que Nossa Senhora tinha vindo num vidro de Roma. Porquê num vidro de Roma? Acaso o nosso vidro não é suficientemente bom? Eu tinha percebido mal. Era numa redoma. Nossa Senhora tinha vindo numa redoma. "Porque traz uma coroa de ouro de muitos quilos, manto bordado a ouro e jóias, muitas jóias." Parei de mastigar para lhe responder, "e esse ouro e essas jóias, vendidos, não seriam uma boa forma de arranjar dinheiro para ajudar uma quantidade de famílias, agora com a crise?!, e Nossa Senhora não havia de se importar de viajar mais pobrezinha."
Sacrilégio! Roubar o ouro à Senhora! Que não, que o ouro e as jóias tinham sido oferecidos pelo povo com muito sacrifício. Ainda retorqui, sem grande sucesso, "mas não achas que agora o povo está a precisar disso tudo de volta?"
E acabou-se ali a conversa, que ela não me quer ver excomungada.

Adiante, e passemos para a importância que a estátua do Cristo Rei tem para a população da Margem Sul.
Para nós, almadenses de carne ou de adopção, o Cristo Rei é o maior mamarracho que alguém se lembrou de construir no nosso território. Eu até podia ir agora ao Google investigar quem foi o autor de semelhante projecto, mas aposto que foi um daqueles licenciados do antigo regime, que aprovou a Inglês Técnico via fax.
Um bloco de cimento atirado ao alto, descarnado, com Cristo de braços abertos para Norte. Vão-se lixar para os braços abertos a Norte, e Cristo não merecia tanta fealdade.
Em cinquenta anos de existência, o Cristo Rei serviu-me, quando era mais nova, para namorar à sua larga sombra e aproveitar as delícias da juventude no meio duns arbustos muito discretos que o rodeavam. Depois, muraram-no, passaram a chamar-lhe santuário, e deixou de ter interesse.
O que a gente queria mesmo, e aproveito para lançar a ideia ao senhor vereador do património edificado, era dinamitar aquilo como se fez aos prédios em Tróia, e contruir ali um carrossel, uma montanha russa, enfim, uma grande feira popular toda iluminada à noite, com farturas e tiro aos pratos e umas barracas com cerveja fresca e caracóis e pipis.
E uma enorme bandeira, no alto, com a foice e o martelo bordados a ouro. Era isso, se faz favor.


Foto de juhanie


Nota importante:

já agora, senhores vereadores da Câmara Municipal de Almada, do que nós também precisamos muito é de espaço ajardinado para onde possamos levar os nossos cães, porque a bicharada precisa de correr. O Parque da Paz é lindo, gostamos todos muito, sem ironia, mas andar com os cães atrelados, e não poder levá-los para a relva por causa das crianças, é muito chato, sobretudo quando os cães até são os companheiros das crianças.

Precisamos dum jardim como o Central Park, para onde possamos ir livremente piquenicar com o nossos animais, ler, correr, jogar, deitar-nos ao Sol e à sombra. Um lugar dog friendly, logo, um lugar civilizado.

Outro recado, já que estou com a mão na massa: lembro que a Festa do Avante era dog friendly e deixou de ser. Na última edição não pude entrar com as minhas cadelas e voltei para trás. Pedi devolução do bilhete, e não voltarei à Festa enquanto não as puder levar comigo.

Ter proibido as pessoas de entrar com cães na Festa foi um enorme retrocesso relativamente ao que era a essência do Avante.

Mensagens populares