Mulheres-máquinas de bebés

Para comemorar o Dia Internacional da Criança Nascida Livre
Meus senhores, é cada vez mais difícil controlar as mulheres, e então as suas barrigas, nem se fala. Elas é que decidem se querem ter filhos, e têm-nos sozinhas, recorrendo a meios que a ciência torna possíveis, e a outros que até preferimos nem saber. Como se não tivéssemos de lidar, ainda, com o terrível retrocesso que foi, por todo o lado do mundo civilizado, a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às x semanas, deparamo-nos agora com uma questão nova e contra tudo o que a natureza previu: as mulheres atirarem-se a gerar e parir filhos depois da menopausa. Aos 50, 60 anos frequentam, por todo o mundo, clínicas especializadas em reprodução medicamente assistida, e compram o tratamento hormonal, a fertilização in vitro, e respectiva insersão uterina, de um embrião resultante de dadores incógnitos, contudo, legitimamente seu filho, da sua barriga.




Segundo Luís Graça, obstetra no Hospital de Santa Maria, ao DN de ontem, "uma gravidez aos 60 anos é inexplicável. Não tem qualquer sentido (...) O corpo não está preparado. É como se fosse uma máquina que foi artificialmente condicionada para receber aquela gravidez ."
Gosto desta frase, por se aplicar a uma mulher dita velha, já fora do circuito, porque se se tratasse de uma mulher jovem, infértil ou estéril até às orelhas, já não seria máquina nem artificial desde que tivesse dinheiro para pagar o processo.O problema é que as velhotas, agora, aos 60, deu-lhes para isto, e nós, que não concordamos, que não achamos bem, nada podemos fazer. Elas vão à Ucrânia, aos países de Leste, e sai-lhes num ápice um menino loiro e de olhos azuis, e sem grandes perguntas.

Adrian Iliescu, mãe aos 67, em 2005


Esta preocupação com a barriga das mulheres sempre me impressionou.. Mas, pergunto eu, as hormonas com que um corpo se prepara para uma fecundação artificial não são as mesmas para as novas e para as velhas?. Não é o reinado da progesterona aos litros? As mais velhas têm dores na coluna e joanetes? E as mais novas, não têm? E diabetes, e colesterol e obesidade. Ponhamos de parte as questões do afecto ligadas à gravidez: se há coisa de que as grávidas se queixam ao longo do tempo de gestação, é desse desconforto, dessa escravidão por vontade ao ser que geram, e que se mexe, e se estica como um alien, que não as deixa dormir deitadas, nem andar de pé, nem beber um copo de água sem irem a correr à casa de banho; nem mexerem-se, de forma geral, como uma prostrada máquina de fazer bebés. As mulheres são umas máquinas de carne para fazer bébés.
Por outro lado, ninguém ousa lembrar a um homem de 60 anos, olhe, o senhor desculpe o incómodo, a gente até sabe que, com esforço, ainda levanta a bandeira, mas, sinceramente, não se considera velho demais para ter filhos? Não. Ninguém. Eles são sempre novos para encher barrigas. Conheço muito português que foi pai aos 70, e com grande honra para a sua virilidade. Aquilo é que são homens a sério. Mas as mulheres, com ajuda da ciência, é loucura, o corpo já não dá, etc., etc. É outra coisa.

Janice Wulf , mãe aos 62 anos,em 2006


No mesmo DN, também se pode ler que Jorge Branco, director da Maternidade Alfredo da Costa "também se mostra muito céptico em relação a esta prática". Diz o médico, "O filho nem é dela. Ela empresta o útero para o desenvolvimento de um embrião que não é dela. É um acto médico não recomendável", sublinha.
Estou aqui com um problema: então a Maternidade Alfredo da Costa não é uma das unidades hospitalares que em Portugal se ocupa da reprodução medicamente assistida, nomeadamente da manipulação de ovócitos e esperma de dadores anónimos que serão os filhos legítimos de alguém? Então mas se é recomendável a Sara Daniela e o José Pedro, de 39 e 41 anos, respectivamente, inférteis, recorrerem a este tipo de apoio (ovócito+esperma alheios), sendo útero da Sara Daniela emprestado para o desenvolvimento de um embrião que não é dela, mas será seu filho, por que motivo o mesmo não é igualmente recomendável para a senhora dona Maria Natália, reformada, viúva, que herdou uns dinheiros do falecido? Por uma questão médica? Não, meus senhores, porque na fase em que está a ciência da reprodução, as questões médicas já não são óbice algum. É a culturazinha. Não é recomendável, porque eles descobriram que não podem mesmo controlar-lhes as barrigas. E isso é novidade, e chato, porque vem romper esquemas aceites e estabelecidos. Estruturas de pensamento tão jeitosas, e agora, tudo por terra. Mudar é chato. Há quem nunca mude, só para que se veja como é mesmo chato.


Patricia Rashbrook, mãe aos 62, em 2006

Claro está que tudo isto me suscita logo grande inquietação. Sinto uma vontade, mal reprimida, de comprar um bilhete para a Ucrânia já amanhã, de por lá passar as férias todas a fabricar um bebé só meu, só meu, graças ao ovócito de outra mulher ,e a pronunciar a tudo spaciba, spaciba, da, da. E juro-vos, bem jurado, que se não fosse uma reles operária de fábrica, sem herança, sem pé de meia, estava neste momento a escolher, on line, o voo para Kiev.
Há quem queira 30 mil euros para comprar um carro. Eu precisava de 30 mil euros para ir ter o meu filho.

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