Não se abstenham
A primeira vez que votei foi numa escola do Feijó, que já não funciona, em 82 ou 83, e levei comigo o Frick, que Deus o tenha, que foi comigo até à mesa de voto recolher o boletim e proceder à identificação, e me acompanhou até à cabine, tudo sem trela, e ninguém refilou. Outros tempos. Gostei de votar. Gosto sempre de votar embora os meus partidos nunca ganhem. É importante respeitar este direito que a democracia nos concedeu. Penso sempre que muitos deram a vida ou a saúde pelo nosso direito a este acto participativo, que é mais do que isso, é decisivo.
Anda pela blogosfera e pela net em geral uma campanha a favor da abstenção. Sou visceralmente contra a abstenção. Quando o meu pai estava acamado, nos dias de sufrágio, chamava os bombeiros, metiamo-lo na cadeira da rodas, subiamo-lo a peso de braços pelas escadas da escola, que foi sempre no 1º andar, e ele lá ia votar no seu partido à vontade. Era um direito que lhe assistia, e era também a minha forma de lhe mostrar que no bendito tempo das suas convicções, ele não podia fazê-lo nem com bombeiros nem com cadeira de rodas.
Creio que a abstenção vai sempre desfavorecer a esquerda, porque este movimento de insatisfação sai maioritariamente das suas fileiras. É óbvio, para mim, que o PS e o PSD vão votar em massa, nisto a que eles chamam um teste para as legislativas e uma manifestação de vigor. Não se vão abster, garanto-vos.
Portanto, enquanto cidadã não abstencionista, cabe-me dizer que seria mais útil votar branco ou nulo. Votar é sempre uma manifestação inequívoca de interesse pela situação política. Se o sistema está viciado, se não funciona, usem-no como antídoto: voto branco ou nulo. Se há descontentamento, e existe muito, o voto deve entrar na urna revelando esse descontentamento: branco ou nulo.
A abstenção, como escrevi ontem na caixa de comentários do Escrita em Dia, é incerta. Nunca sabemos se quem se absteve estava de férias, ou não foi porque chovia muito ou chovia pouco ou se se está nas tintas para a política. E não é essa a mensagem duvidosa que querem passar, pois não?