Poema de sexta-feira à noitinha

Tinha de decidir se havia de enganar o farmacêutico com uma mentira qualquer para me vender uma caixa de Lorenin 5 ou se entrava no Jumbo, e comprava, sem alarido, uma garrafa de legalíssimo uísque velho, sem justificações. Por uma questão de preguiça, e não só, optei pela segunda. O meu pai bebia uísque com soda e gelo ao sábado à tarde, e deixava-me provar golinhos preciosos. Gosto de uísque porque era a bebida do meu pai, porque me leva para outro tempo, outro lugar. Estou sentada ao seu colo e ele pergunta-me, queres provar? Queres ir dar uma voltinha ao Zambi? Queres ir comer um sorvete na cooperativa?
O meu uísque tem folhas de palmeira e uma brisa morna a tocar-me nos ombros.
Não somos o que os nossos pais quiseram que fôssemos; não somos o que eles fizeram de nós. Somos o que os vimos fazer, e aquilo que fizemos com eles, e era bom.

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