Um cão que sobreviveu ao Vietname

Hoje quero falar-vos do Talibocas, o cão do Vietname.
Para iniciar, deixo claro que o Talibocas é um cão único, especial, que precisa de um dono igualmente especial, que aprecie as suas idiossincrasias.
Chamo-lhe cão do Vietname, desde que o vi, porque a criatura parecia um veterano de guerra, acabado de chegar do ponto mais encarniçado da guerrilha, respirando, mas coberto de feridas. Encontrava-se tão magro e tão ulcerado que dificilmente encontrávamos no seu corpo um lugar disponível para receber festinhas.
O Talibocas, viveu toda a vida na rua ou foi abandonado, ou ambas, não se sabe, e quando chegou à Casa do Pinhal - Família de Acolhimento Temporário Remunerada , pertencente à minha amiga Inês - vinha a recuperar de um atropelamento. Mão amiga tinha-o levado ao veterinário, onde estivera internado, e nessa altura precisava de um lugar onde recuperar totalmente dos autênticos buracos que ainda trazia na carne..
Embora os cépticos afirmem que o Talibocas é inadoptável, eu e a Inês achamos que não é bem assim: apenas precisamos de arranjar um dono especial para um cão especial.
O Talibocas é, digamos, um cão de uma estirpe exquisite, único da sua espécie: já velhote - a semana passada até lhe caiu um dente, pele cicatrizada mas com muitas peladas, as pontas das orelhas roídas, pequenote de rodas baixas; um rasteirinho, com a cauda sempre a abanar, fiel como poucos. Para mim e para a Inês é lindo, é um Mister Dog.
Teve a vida difícil de um cão abandonado na cidade. É, portanto, um sem abrigo, um durão que passou por tudo. Sofre de uma doença não transmissível aos humanos, que apanhou através de picada de mosquito, a leishmaniose. A maior parte das peladas têm a ver com a referida doença, embora esteja totalmente controlada - é medicado para o efeito.
Gostávamos que o Talibocas fosse bem adoptado, porque merece um resto de velhice em paz. Temos um carinho especial por este animal que passou por tudo, e a tudo resistiu, e se mantém vivaço, crente nos humanos, bom como só um cão sabe ser.
Aceitamos candidaturas à adopção do Talibocas. Tem de ser alguém que ame os cães, que perceba que passear um animal como o Talibocas não confere status a quem o passeia, que muita gente pode mesmo afastar-se, como medo das "doenças", que é um ser sofrido, contudo, um sobrevivente dos autênticos. Se fosse uma pessoa, tenho a certeza que o Talibocas seria filiado no PCTP-MRPP. Seria certinho!
Podia deixar-vos aqui uma foto dele, mas prefiro remeter-vos para a Casa do Pinhal, onde poderão ler a história completa do Talibocas, e ver todas as fotos.

A Casa do Pinhal é também um dos meus blogues preferidos, não por ser da Inês, mas porque ela fala sobre os cães com uma responsabilidade, uma vocação, um espírito de missão e de mudança que me move. A forma como a Inês fala dos animais inclui-se no espírito do que para mim constitui O Novo Mundo.
Mas o objectivo deste poste é arranjar um dono especial para um cão especial. Não esqueçam, por favor. Quem ficar com o Talibocas não lhe faz nenhum favor, recebe um prémio raro: o Talibocas.*

*Quando chegou à Casa do Pinhal chamavam-lhe Talibã. Não sabemos quem lhe pôs este nome. Sinceramente, há nele algo de Talibã, mas a Inês resolveu atenuar a semântica e passou a chamar-lhe Talibocas.

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