Juntos

O meu pai estava comigo. Tínhamos ido a um banquete numa casa muito fina. Puseram em cima das mesas alguns coquetailes de camarão. Eu e o meu pai, com naturalidade e boas intenções, fomos servir-nos. Tínhamos ambos fome e ali nunca mais se comia.
Os coquetailes destinavam-se à entrada, pelo que quando a refeição teve início já não no-la distribuíram. Obviamente, reclamei perante a jovem organizadora de eventos.
- Mas que raio de festa é esta em que uma pessoa não tem direito a comer duas entradas? Isto está racionado, ou quê?
E arranjei logo ali uma grande questão. Aleguei que tudo aquilo era uma vergonha, que o meu pai era uma pessoa de idade e doente, e não podia estar ali aquelas horas todas à espera de comer, e que tínhamos todos fome, ponto final.
Armei um escarcéu que só visto.
Continuo a sonhar com o meu pai todas as noites. Onde quer que eu vá, ele vai comigo.

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