Ossos


Árvore do genoma humano.


Uma amiga de infância foi ao cemitério procurar a campa do meu pai e já não a encontrou. Na secretaria disseram-lhe que os restos mortais correspondentes ao seu nome se encontravam num ossário, juntamente com os de outra pessoa. A minha amiga perguntou-me com quem partilhava ele a gaveta. Quem era essa pessoa?! Os espaços da morte são muito íntimos. Respondi que era a mãe, a minha avó paterna, portanto. O que restou do meu pai e da sua própria mãe encontra-se guardado numa mesma gaveta rente ao chão, num sítio ermo do cemitério do Feijó.
Penso muito nisto, porque é como se estivessem agora dentro de uma mesma barriga de morte. Já não existe mãe nem filho, mas dois seres ligados pela carne na sua forma mais pura, cujo adn permanece ali intacto, esperando ainda pelo último elo da cadeia, que sou eu. Seria eu. Naquela gaveta não há lugar para mais ninguém.
Como da minha carne não sairá carne alguma, os meus ossos apenas poderão acompanhar os da minha mãe, se alguém fizer o favor de os arrumar juntinhos, numa mesma bolsa de morte, num cemitério qualquer. E acaba ali.


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