O que foi o colonialismo?

O governo moçambicano inaugurou, no início do mês, uma ponte de quase três quilómetros sobre o rio Zambeze, ligando a província de Sofala e a da Zambézia, ou seja, aproximando o Sul e o Norte do país, ao transformar viagens rodoviárias de sete dias em percursos de apenas dois ou três. É importante que tal aconteça para o desenvolvimento do território.
A mão-de-obra técnica e especializada veio, segundo o jornal i, de 31 de Julho passado, principalmente de Portugal, Itália, Holanda, Suécia e Noruega. A ponte foi construída pelo consórcio português Mota-Engil/Soares da Costa. Os custos do empreedimento, no montante de cerca de 67 milhões de euros, foram cobertos por fundos da União Europeia, e outros disponibilizados pelos governos italiano e sueco. Moçambique contribuiu com o que tinha, isenção de IVA e impostos alfandegários. Quem dá o que tem...
Eis um bom exemplo do que foi o colonialismo. Trinta e quatro anos após a independência, Moçambique ainda não possui, já não digo financiamento para uma ponte, mas cérebros e técnicos que a ponham em pé. Apenas mão-de-obra, aquilo que existia no tempo em que o meu pai pagava a 30 negros para executarem, às suas ordens, a electrificação do prédios de Lourenço Marques. A diferença é que agora ganham melhor, pagos pela empresa internacional.
Tornar um país independente não implica entregar-lhe apenas o poder político. Implica devolver-lhe o que se lhe tirou. Nomeadamente, a capacidade de acção.
Não há brancos espoliados. Lamento, mas é uma ilusão de propriedade. Os brancos compraram o que não lhes pertencia. Medraram com base num trabalho para-escravo. O que há é uma enorme terra fértil, cheia de potencialidades, que se viu obrigada a governar-se partindo do zero, e pior, cheia de raiva. Ficaram as infra-estruturas construídas segundo as ordens do brancos, mas como se poderia mantê-las? Quem sabia reparar os cabos que se partiam? Os elevadores? As torneiras de rega? E com que materiais? Onde arranjar trabalho, se as empresas se haviam desfeito com a saída dos brancos, devidamente justificada pelo contexto? Tendo os colonos regressado ao lugar de onde haviam partido, quebradas todas as estruturas de planeamento e produção, que nunca tinham estado nas mãos dos negros, e não tendo havido tempo para a formação de técnicos que mantivessem em bom estado o legado do colonialismo, o que restava para o poder político governar?
Foi isto, o colonialismo.

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