O meu moinho de pimenta

Os meus amigos são todos muito trendy, muito design, e desconfio que se relacionam comigo apenas porque levo algum folclore às suas vidas.
Ultimamente, tenho reparado que em cada jantar para que sou convidada há um moinho de pimenta, com verdadeiros grãos, um moinho de sal, com verdadeiras pedras, e até uma espécie de sal muito fina a que se chama flor de sal, e que não percebo muito bem em que difere do sal de cozinha do Minipreço, mas vá.
Bem, pensei eu, influenciada pela pressão de pares, se calhar também tenho de arranjar um moinho de pimenta. Concordo que os grãos moídos na hora têm outro gostinho. Assim, programei uma excursão à secção de utensílios de cozinha do Jumbo.
Encontrei vários tipos de moinho, em diversos materiais, desde a fibra de vidro transparente à madeira de cedro envernizada ou em bruto, passando por alguns exemplares de fantasia, todos às flores, ou pintados de polícia inglês ou de dançarina de hula-hula. Tudo bem, até aí. Foi quando comecei a comparar preços. Queria o mais barato de todos, de tamanho médio. Ora o modelo que se encontrava nessas condições custava 38 euros. As pessoas pensam que 38 euros não é nada, mas com essa quantia compro um cd ou um livro e ainda consigo ir três vezes ao cinema. Depois havia os de 17, que eram pequeninos como um vibradorzinho de mala. E o meu lado folclórico, nesse momento, salvou-me.
Vim para casa, procurei no saco das ferramentas que herdei do meu pai, que veio no caixote dos retornados, e tirei de lá um belo dum martelo impregnado de design vintage, com uma pega em boa madeira envelhecida e suada, que deve ter passado pelas mãos de todos os negros que o meu pai empregou e deve ter martelado em todos os prédios de Lourenço Marques. Claro está, levei-o logo para a cozinha. Está na gaveta do saca-rolhas e do descasca-legumes e dá-me um jeitaço de cada vez que é preciso esmagar grãos de pimenta cá em casa.

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