Pardais do subúrbio

Há um côncavo no chão, junto à esplanada do café, para onde escorre a água das lavagens de algures. Quando está calor, as cadelas gostam de se sentar sobre a água desse lago duvidoso. Enxoto-as. Ralho-lhes. Porque vocês se sujam todas. Aquilo não é água limpa. Etc.
Hoje reparei que os pardalinhos aí vão beber. Descem das árvores, acercam-se sem medo, e molham os biquinhos. Fiquei a pensar que se calhar vai fazer-lhes mal, que se calhar vão morrer, e esta ideia foi demasiado triste. Mas o instante de vida dos passarinhos, a pura energia, livre, selvagem que os anima enquanto não caem das árvores fulminados pelo nosso lixo, consolou-me. Que alguém seja livre a vida inteira. Já nem me interessa quanto dura uma vida.

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