A minha pasta vermelha

Algumas pessoas pensarão que eu levo uma monótona vida de solteirona, casa, esplanada, mãe velhota, cadelas, prima afastada, monitora da hidroginástica, colegas da fábrica, agente literário... Não é verdade! Embora admita que não parece, vivo um quotidiano frenético, envolvente e excitante.
Hoje, por exemplo, fui à advogada tratar de assunto de suma importância para o desenvolvimento de certas áreas do nosso País.
Ora, tal como Barak Obama, também tenho uma pasta vermelha repleta de assuntos quentes. Uma verdadeira pasta vermelha cheia de papelada. Não sei como é a dele, mas a minha foi comprada no Jumbo, toda em plástico, do melhor que a indústria nacional produz, e com mais de duzentas micas interiores onde posso colocar e proteger cada folhinha do meu importante dossier quente.
Levei a pasta vermelha para a consulta da advogada e coloquei-a em cima da sua secretária enquanto aguardava que acabasse uma anotação e pudesse atender-me. Quando esse momento chegou, a Doutora Marcela, antes sequer de me perguntar ao que ia, puxou para si a minha pasta e eis que a abre na primeira página, perante a minha incredulidade e surpresa, visualizando o primeiro documento, que nada tinha a ver com a questão que ali me levava.
Abri muito os olhos, e disse-lhe, isso são outras coisas, enquanto trazia de volta a mim aquilo que me pertencia.
A Doutora Marcela olhou-me, finalmente, e perguntou, então o que a traz cá? Nesse momento abri legitimamente a pasta, folheei-a demoramente - para lhe dar a entender... - e tirei os documentos relevantes para o caso, enquanto explicava o que ali me tinha levado.
O resto da consulta correu normalmente e penso ter dado início, com sucesso, ao que pretendia iniciar.
O meu problema, agora, é que não sei se deva arranjar outra advogada que possa tratar eficazmente de um segundo processo que gostaria de instaurar à Doutora Marcela, por tentativa de violação de documentos privados e atropelo deontológico. Mas o pior é que não tenho testemunhas.

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