Bibelô

Se pudesse, abriria a porta da tua casa, entraria, e deixar-me-ia estar por aí sentada numa divisão qualquer, mesmo que tu não estivesses. Não incomodaria. Não interpelaria ninguém. Quando chegasses, não precisavas sequer de reparar em mim, desde que me fosse concedida a possibilidade, agora impossível, de olhar para ti, para a tua pasta, os teus cadernos, a roupa de andar por casa. Desde que pudesse ver-te passar a mão pelo crânio, coçar a barba, assoar o nariz, arranhar as costas com uma mãozinha de madeira que o teu pai te trouxe do Alentejo. Queria só estar mais perto de ti, como um bibelô com faro.

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