Big Brother no colégio

Foto: jornal i

Os melhores colégios de Lisboa, católicos, permitem que uma produtora de vídeo frequente as suas instalações a fim de gravar anuários dos alunos, com autorização dos pais. Li isto há umas semanas, no i. Filmam as crianças nas aulas, excepto nas de Português e Matemática - calculo que a professora de Geografia deva adorar! Filmam-nas também no recreio, em animado convívio com os coleguinhas, na cantina e por aí fora. Realizam sessões Big Brother. Julgo que não o façam quando os juvenis se juntam atrás do pavilhão D para fumar às escondidas, ou noutras acções menos próprias que cabe a todos realizar, embora os papás não apreciem. Confesso não saber se nos melhores colégios católicos de Lisboa existem pavilhões D. Se calhar, não. No meio desta febre documental, outras pessoas que não deram autorização alguma são igualmente apanhadas, como as freirinhas, os professores, as senhoras da limpeza, e as outras crianças, cujos pais, eventualmente, discordem de tais processos de registo.
A empresa defende que os progenitores gostam muito dos seus dvds a 30 euros a unidade, até porque não têm ideia sobre como decorre o dia-a-dia dos filhos no colégio. Compreende-se que uma pessoa goste de saber como gasta os seus milhares de euros anuais. Afinal, o que fazem a Leonor Augusta e o Dinis Afonso nos momentos em que a criadagem da casa não lhes refreia os ímpetos?
Tendo a noção que cada um têm o direito a gastar os seus euros como bem entende, penso que devem existir alguns limites éticos relativamente ao que se compra e vende. Eu não gostaria de ter sido filmada na escola, quando fui aluna. Não gostaria que os meus pais tivessem dado autorização para tal. Não suporto que me espreitem, que me vigiem. Tenho o hábito de sair das lojas nas quais percebo que estou a ser vigiada. Parece-me coisa de muito mau gosto. Não tolero essa desconfiança generalizada. Defendo que temos, enquanto crianças ou pessoas adultas, o direito à privacidade, pelo que não compreendo esta obsessão com a imagem, este objectivo maior, que se gerou na sociedade, e leva os seus elementos a desejar transformar as suas vidas num episódio da novela "Morangos com Açúcar".

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