As lobas

Ultimamente tem sido uma sobredose de África, pelo que os meus leitores de fait-divers têm toda a razão em reclamar. Então, e as meninas? Já não se fala por aqui das duas meninas mais colunáveis de Almada? Ah, vou já remediar essa insuficiência noticiosa.

A Morena continua muito linda e sedosa. Por isso - bela desculpa! - todas as noites adormeço enrolada no seu pelinho de ursa polar. Agora dá muitos passeios sozinha, porque conhece a zona, e não está disposta a esperar por mim e pela Micas, que coxeia muito e progride lentamente. Quando não sabe de nós vai postar-se frente ao café Colina, mesmo que eu nem lá esteja. Todos a conhecem. Muitas vezes olha-me fixamente como se me decorasse; pergunto-me o que pensa de mim, o que vê em mim. Se lhe faço festinhas na cabeça, lambe-me as mãos. Quando saio do trabalho venho a correr para casa porque quem tem filhos tem cadilhos.

A Micas tem sofrido muitas dores nas pernas, e mal anda. Também lhe cresceram mais dois ou três lipomas e quistos sebáceos pelo corpo. Nada de grave. Nada que não chegue a uma cadela com 12 anos. Já tem o focinho todo branco. Para além de velha, está resmungona, comigo e com a Morena. Na rua parece um anjinho, e todos têm muita peninha dela, como se eu a maltratasse imenso. Há momentos em que me lembra a minha mãe. Os velhos são muito parecidos, mesmo entre as espécies.
Esta noite, acordou-me três vezes, pedindo que a tapasse. Faz um rum-rum, e eu sei que está a falar comigo. À terceira, pareceu-me mais um choro. Estava a chorar de frio na sua caminha. Trouxe-a para a minha, que felizmente é grande, metia-a dentro dos cobertores e dormimos as três de rostilhada, como lobas de matilha que somos de verdade.

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