O problema que não existe

Antigamente, passava nos nossos lugares e ficava triste. Era triste que pudessem lá continuar, existindo sem nós. Era triste que existíssemos ainda, e já não fôssemos nós. Era triste e era injusto. Mais do que isso, era um erro. Um equívoco. Contas mal feitas. Eis como tinha sido possível esculpir grosseiramente dois seres humanos tão infelizes!
Mas isso era antigamente.
Há um momento incerto em que paramos para pensar no "nosso problema", e a questão que se põe é "porque é que os lugares onde estivemos são difíceis de enfrentar e se tornaram um problema"? Que problema é esse, concretamente? Bem, fartei-me de pensar e o problema já não existe. O que ficou foi espaço a mais. Um vazio não ocupado. Um vazio que deveria ter sido coisa precária. Porque, quanto ao resto, o que interessa que tenha existido tristeza, injustiça, equívoco, contas mal feitas, que nós já não sejamos nós?! Ficou tudo para trás há dezenas de anos! O Tribunal do Santo Ofício também foi um erro, uma injustiça, mas agora apenas me suscita respeito. Confesso que não fico triste ao atravessar o Terreiro do Paço.

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