Benzedura

Nas traseiras do centro de saúde encontrei um homem, alto e barrigudo, concentrado em benzer a bateria de um modelo Mercedes dos anos 80, por cima do capô. À primeira vista não percebi os gestos curtos que desenhava com a mão. Depois recordei as orações da minha avó materna. Era a benzedura. Dentro de carro via-se um rapaz agarrado ao volante. O motor encontrava-se desligado e pretender-se-ia que a máquina ressuscitasse. A ideia agradou-me. Se pudesse escolher entre levar o meu carro ao mecânico ou ao homem das benzeduras, preferiria, sem hesitações, o segundo. Acredito que o ritual tenha resultado. Não pude esperar. Ia com pressa.
Passou-me pela cabeça aproximar-me e pedir-lhe, oh, senhor, benza-me os olhos, se faz favor, que preciso tanto; e esta mama, esta, está a ver?! E, já agora, a barriga, senhor, se não se importar, que a trago toda esquartejada. Mas, como disse, ia com pressa.

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