Terra

Sempre me disseram que não era possível chegar ao final do arco-íris. Que aí se encontrava escondido um pote cheio de ouro, guardado para o mais puro de entre nós. É mentira. Posso garanti-lo, porque estou ali a ver, ao fundo, onde pousa o arco que alcanço da minha janela. Começa no Tejo e vem enfiar-se entre dois pinheiros mansos do Alfeite. Um dos mais altos, junto ao reservatório de água, e outro, adjacente, mais baixo e amarelado. Vejo os raios rasarem o chão. E, sim, isso é verdade, ali se encontra o pote de ouro. Distingo-o nitidamente: terra negra, húmida, cravejada de sementes; insectos cegos que remexem o solo; fungos que despontam; pássaros que debicam grãos; um vento frio que abana os panos coloridos da cortina do arco.

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