Um cheiro ácido a macho novo

De noite choveu. O Zeca e Isa dormiram na tenda à beira rio e acordaram encharcados.
Nós dormimos onde? Na casa da tia do Gabi ou numa pensão barata?
Não estás na fotografia, porquê? Estarias de lado gozando o pratinho? Terias ido comprar tabaco com o Artista e aproveitado para fumar a última ganza da viagem? Deves lembrar-te disto um bocado melhor que eu. Ajuda-me, então!
Era o lançamento de uma revista com os nossos textos e os de outros poetas galegos? Foi publicada alguma coisa da minha autoria ou fui apenas para te ouvir ler e dormirmos juntos? A Lena também não está na foto, nem o Gabi. Hum, devem ter ido ao tabaco e ao resto! E eu fiquei a portar-me bem, para não destoar.
Não me lembro de quase nada. Havia um restaurante junto à ponte, com uma esplanada onde era impossível estar-se. Tínhamos pouquíssimo dinheiro. Comemos bitoques, de certeza. Humidade. Nevoeiro. As tuas mãos. Os teus complexos. Os meus. Lembro-me bem do calor dos teus braços. E do teu peito. E dos teus pés. Tinhas um cheiro ácido a macho novo que apetecia comer. Lembro-me da tua boca. Deixa-me explicar melhor, lembro-me de enrolar a língua na tua boca e de a seguir fodermos como animais cheios de cio. Gostaria de me lembrar de qualquer coisa decente e edificante, juro, mas só me vêm estas ideias psicóticas das tuas mãos a enfiarem-se pelas minhas cuecas e soutien, desculpa lá. Mas foi em Amarante, tenho a certeza. Havia um encontro qualquer e serviu-nos lindamente como pretexto para nos amarmos nesse ápice de tempo. O resto não interessa, querido. Glória à nossa acidentada história!


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