Prótese nova

Tenho uns óculos novos com lentes progressivas para ver ao perto e ao longe. Disseram-me que ia ser preciso um estágio para conseguir usá-los; que teria grande dificuldade para me adaptar; que não virasse a cabeça de repente, que não olhasse de lado, que era melhor levar alguém comigo das primeiras vezes que saísse à rua, e que custava, mas convinha pensar neles como uma prótese, e uma prótese exige adaptação, mas compensa em qualidade de vida.
Vim para casa a pensar, estou lixada, então gastei 800 euros nisto e nem posso olhar de viés?! Coloquei-os em cima do nariz e, de repente, senti que Nosso Senhor tinha feito um milagre. Via. Quero dizer, via melhor que antes. Podia virar a cabeça e olhar de lado e não havia literalmente qualquer problema de adaptação. Conseguia lindamente ler as legendas da tv, tudo. O mundo renascia. E pensei que as pessoas não sabem o que é ser pitosga a serio. Os pitosgas não precisam de estágios oculares, precisam é de qualquer coisa que os ponha a ver.

Os meus novos óculos têm uma armação Versace. Eu não queria, porque sou contra a política das marcas. Pedi para ver das mais baratas, mas ficavam-me mal ou não serviam para lentes grossas. De maneira que ficaram as Versace. São bonitinhas, da cor do meu cabelo. Esqueçamos o preço. As lentes é que são poderosas. Pareço o Luiz Pacheco, mas em mais gordinho e mais bonito.

Não tenho coragem para ir com eles trabalhar, ao cinema, às entrevistas. Ainda não saíram do percurso do passeio das cadelas. Portanto, para todos os efeitos, excepto à noite, quando estou na intimidade da minha casinha, e de manhã, quando levo as meninas lá fora, continuo usando as lentes de contacto, sem ver um palmo à frente, e fingindo que consigo ler as inscrições nos placares.

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