As patinhas da Moreninha

No sábado era para ter escrito sobre as suspeitas que recaem sobre o primeiro-ministro, mas meteu-se a limpeza da casa. No domingo tencionava escrever sobre uma crónica da Marta Crawford no i, na qual falava de sexo nas axilas e nas glândulas mamárias, e eu imaginei logo o meu marido a dizer-me, querida, não te importas que te esfregue o pirilampo no sovaco? E eu responderia, esfrega à vontade, amor, desde que me deixes dormir. Mas tinha testes para corrigir, montanhas de testes e de folhas Excel para preencher, de maneira que tive de deixar para segunda.
Ontem, pensei escrever um microconto baseado numa situação que presenciei no Minipreço, mas os testes... Também queria muito abordar a iniciativa Limpar Portugal, na qual não participei. Até podia, mas mandaram-me uns mailes com a bandeira portuguesa e o hino nacional, apelando à limpeza com base na grandiosidade da nossa história, no facto de termos sido grandes navegadores, um povo especial, etc., etc., e aquilo agoniou-me tanto que tive logo de abrir a janela para respirar ar puro. E o Dia Mundial da Poesia, da poesia, da poesia, com senhores andando de porta em porta, recitando quadras populares ou poemas de Al Berto, ou outros, nos quais o mundo é mau, está mal, a malevolência impera sobre todos os reinos da terra, e ainda a fabulosa compilação de poetas da nova geração que está no top da FNAC e que deixei passar porque me apetece deixar passar. Não escrevi sobre a poesia, eu que sou tão dada à lírica. Tinha de levar as cadelas à rua. Precisava de fazer sopa e segundo. A minha mãe tinha medicamentos para eu aviar na farmácia e pediu-me para lhe massajar bem as costas com Voltaren gel.
De maneira que agora observei a minha Moreninha a mexer as patinhas enquanto sonhava. Ia a correr e as patinhas corriam no sonho, corriam muito, e respirava forte, e pensei, que se lixe o resto, a minha Moreninha é que não deixo passar por nada deste mundo. E escrevi este texto.

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