Nós, não, que somos tolos

O governo irlandês lançou um concurso de ideias para recuperar a economia do país. O vencedor arrecadará um prémio chorudo no valor de milhares de euros. Muitos milhares.
Toda a gente pode concorrer, inclusive cidadãos estrangeiros.
Trata-se de recolher ideias para a criação de empregos, apesar da crise. E têm surgido inúmeras, como, por exemplo, o reaproveitamento de antigas vias férreas abandonadas, que poderiam ser agora restauradas, criando percursos campestres, promovendo o turismo.
O que me parece louvável é esta iniciativa de um Governo que pede ajuda aos cidadãos. É mais do que isso: é contar com as pessoas, acreditar nas suas capacidades, na sua invenção. Não é apenas uma forma de gestão profundamente democrática como se trata de um excelente exercício de humanismo.
Em Portugal isto não aconteceria, sejamos realistas. Não por que não tenhamos capacidades de inventar, como os irlandeses, mas porque não somos tidos em consideração. Para os nossos consecutivos governos, o que pensamos não interessa, e nós sabemo-lo, portanto, para quê pensar? Somos infantis, imaturos, incultos, um pouco tolos; emocionamo-nos com o Preço Certo e as graças do senhor Fernando Mendes, um gordinho tão fofinho; precisamos de ser guiados, de alguém que nos indique o caminho, que nos diga como é, à força, porque só entendemos à força, e até gostamos e agradecemos. Por isso é que nunca ninguém se daria ao trabalho de nos perguntar o que pensamos ser útil para melhorar a nossa terra. Mais vale, por isso, participar no concurso do governo irlandês. Ou, até mesmo, e não quero ser radical, emigrar.

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