Ossos

Os ossos de há quatro mil anos, esquecidos sob a terra, estão tão sozinhos. De lado, em posição fetal, sentados, deitados de costas sobre a cloaca depois cheia de terra. Estão por todo o lado, calcificados sob o nossos pés. Mesmo sós. Porque quem lhes deu vida já cá não está. Não havia outra saída. Uma pessoa não pode ficar para sempre a vigiar as suas ossadas, é preciso tocar em frente; para a frente que os de trás estão empurrando, ensinou-me a minha prima afastada.
Sinto carinho por esses ossos tão sós que há tanto tempo não recebem um abraço. Ainda vejo neles qualquer coisa: a forma de um corpo; esses restos ainda são as pessoas que os animaram. Não lhes pertencem, apenas. São os homens e mulheres e animais que pisaram, como eu, o chão escuro no qual estão enterrados.

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