A mulher-a-dias vem amanhã, deixa-me ir já limpar a casa.

Toda a gente sabe que eu tinha uma mulher-a-dias filipina que nunca conseguiu aprender português e a quem eu dizia, the bleach is under the sink; did you dust the guest room?; are you available to come next friday? Para dizer a verdade, dava-me um certo estatuto.
Tinha. Já não tenho. Arranjou um namorado norueguês no H5, ele pagou-lhe a viagem, jurou amá-la para sempre, o que considerando a idade dele já não será muito tempo, e ela foi.
Não percebo esta atracção dos nórdicos por mulheres de pele amarela, mas há tanta coisa que eu não compreendo no mundo dos homens, que mais vale saltar para o assunto que se segue.
Estes casos trazem-me sempre à memória as palavras do meu pai. Não dependas de nenhum homem, tu não dependas de nenhum homem. E eu acrescento, de nenhum homem, de nenhuma mulher, de ninguém. Depender de alguém é perder uma enorme fatia de liberdade, e eu não saberia viver sem esse vício.

A minha ex-mulher-a-dias é pela minha idade, pelo que depreendo que ainda haja por aí muitas mulheres educadas para depender de alguém. Por outro lado, a revolução sexual trouxe para a ribalta um segmento masculino com especial predisposição para depender financeiramente. A minha mãe está sempre a avisar-me, olha que eles querem é chupá-las. Juro que não me rio do verbo expressivo. É uma forma de me avisar para que eu tenha cuidado com os homens, de preferência não arranjando nenhum, e ficando a tomar conta dela para sempre, como cabe a uma filha única solteirona e dedicada. Pois, tens toda a razão, digo-lhe, para a sossegar.

A minha prima afastada, quando soube que a minha mulher-a-dias arranjou namorado, aproveitou para me mandar um email onde se podia ler, Isabela, se a Chiang arranjou um namorado rico e tu nem um sem-abrigo consegues levar para casa, algo de muito grave se passa contigo.
Não lhe respondi, ainda. Talvez lhe diga qualquer coisa do tipo, "não achas que para uma mulher da minha idade arranjar namorado tem de ser um bocado burra?" Sei que este argumento colhe.

Bem, o certo é que isto é rei morto, rei posto. Hoje telefonei para um número que deixaram na caixa do correio com a seguinte publicidade, senhora moldava, oferece para fazer limpezas em casas, faço tudo, passar a ferro. Uma senhora moldava! Um grande viva para as senhoras moldavas, russas, ucranianas, biolorussas, romenas, brasileiras, angolonas, cabo-verdeanas que nos ajudam tanto a limpar as nossas casinhas e nos arrranjam as unhas e nos fazem massagens e limpezas de pele. Um grande viva todos em coro, por favor.
Adoro aquele português de Leste da Tatyana, nome da minha nova empregada, que há-de vir amanhã. Senhora morar onde? Querer quantas horas? Maravilhoso. Qualquer dia estou a falar como ela.
A minha mãe mandou-me imediatamente limpar a casa, aspirar, tirar a maior, porque parece mal a senhora vir pela primeira vez e estar a casa toda desarrumada.

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