A minha querida família

As pessoas perguntam-me muito pela reacção da minha família ao livro.
Gostava de esclarecer que, tirando a minha mãe, resta-me pouca família com a qual mantenha relações. Não conheço ninguém, repito, ninguém da família do meu pai. Imagino que tenha primos, mas não sei onde vivem nem como se chamam nem tenho curiosidade em saber.
Ter família é viver preso ao que esperam de nós, às obrigações que se devem. Eu, mal nascera, já estava a dever favores ao padrinho que me foi buscar à maternidade, porque o meu pai não me queria ver nem pintada, nem à minha mãe, grande culpada porque eu tinha vindo... rapariga.
Há outras pessoas que, não sendo família, tiveram importância na minha vida por serem amigas dos meus pais. Algumas leram o livro e não comentaram, outras, não faço ideia, e é assunto que também não me interessa. Não perco dois segundos tentando adivinhar qual será a opinião dos outros sobre mim. Até porque é demasiado fácil imaginar o que pensa de nós a família. Para além da minha mãe já tenho a Micas e Morena; as duas últimas têm óptima opinião sobre mim e não me chateiam por estar gorda ou despenteada ou não ter luz em casa à noite - o que é que eu vou fazer para a rua com frio e chuva e etc.?
Antes da família vem a liberdade e a paz de espírito. E mesmo partindo deste pressuposto há sempre um momento em que uma pessoa se passa.

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