O meu gabinete

Chegou a Primavera e, apesar dos Program e quejandos, retirei uma pequena carraça moribunda do pescoço da Morena. Disse-lhe, minha querida, não estou nada interessada em dormir com os teus hóspedes, e dito isto empalei o horrível vampiro que lhe sugava o sangue.
Não sei se as carraças têm sentimentos, mas espero que não, porque não lhes tenho qualquer afecto. Ainda estou para compreender a utilidade dos parasitas. Contribuem para o equilíbrio ecológico? Eu dispensava tanta biodiversidade.

Uma colega muito querida ralhou comigo porque paro pouco na sala de professores. Nunca fui muito de sala de professores. Tem muita gente. É preciso conversar, sorrir, interagir, ser alguma coisa, e eu prefiro não ter que ser coisa alguma. Gostava de ter um gabinete como os professores dos filmes. Se tivesse um gabinete havia de ter os meus papéis muito arrumadinhos, e plantinhas, conchas, pequenas recordações de sítios onde estive, poemas sem grande presunção, luz quando preciso de luz e sombra quando preciso de sombra. Havia de ter um divã para dormir umas sestas, e quando me fossem bater à porta fazia de conta que tinha saído para ir à reprografia. O ideal seria deixarem-me levar as meninas, e ter por lá as suas caminhas, o prato da água e da comida. Só viria a casa dormir. A ideia não me desagrada, mas os sonhos são apenas sonhos.

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