Feira do Livro: uma aventura na Livros do Brasil

Antigamente ia à Feira do Livro para calcorrear tudo o que era stand, subindo e descendo duas vezes o Parque Eduardo VII. Hoje em dia, seria impossível. Vou directa às editoras que me interessam, verificando antes, pela internet, onde se situam os respectivos stands.
Hoje, rumei à Livros do Brasil. Queria um livro de Annie Ernoux recomendado por uma leitora. Toda faceira pedi à menina, olhe, se faz favor, era um livrozinho da escritora Annie Ernoux, acho que é Lugar ao Sol, ou qualquer coisa assim.
Annie Ernoux? Annie Ernoux? E voltou-se para dois senhores sisudos, de fato, gravata e óculos de ver ao perto, que pareciam acabadinhos de sair do gabinete de informação de um governo PS. Percebi uma troca de impressões quase em código, uns abanos de cabeça, e a menina voltou, Annie Ernoux não é nossa. Por acaso até sei qual é a editora... - olhou para trás, os senhores sisudos estavam perto - mas a senhora vá ali às informações e pergunte, que eles dizem-lhe.
Muito obrigada. E segui caminho, pensando com os meus botões, se a escritora não é deles, mas sabem a que editora pertence, por que não dizem? Qual é o problema? A isto é que se chama união no sector editorial. Fui-me embora com muito má impressão, como é de calcular.
Nas informações da APEL tive de esperar um bom bocado, porque uns senhores queriam comprar as memórias de um médico de província, mas não estava na feira, não estava, paciência, desculpassem, disse-lhes a funcionária. Chegou a minha vez.
Boa tarde, diga-me, por favor, qual a editora portuguesa da Annie Arnoux. Soletro. Digita rapidamente o nome no computador e devolve-me a seguinte informação, é a Livros do Brasil.
Não pode ser... acabei de vir de lá e disseram-me que a Annie Arnoux não é deles.
Ah, é, é. São dois livros, um chama-se Um Lugar ao Sol e o outro Uma Paixão Simples.
Mas acabei de vir de lá...
Sabe, às vezes a pessoa que está a atender não está bem informada...
... mas estão lá três pessoas...
Volte e diga que na APEL lhe confirmaram esta informação.
Ok. Subo a feira, apresento-me no dito stand com os dentes a ranger, e digo, venho da APEL e os livros de Annie Ernoux são desta editora.
A menina volta-se de novo para os senhores sisudos. Há uma certa movimentação. Catálogos. Consultas às estantes. Nada. Conversa, conversa, tudo em código, não ouço nada, não olham para mim. A certa altura a menina diz-me, Um Lugar ao Sol está esgotado.
Ignorei. Há meia hora atrás não era da sua editora, agora estava esgotado... Continua a movimentação. Catálogos. Folhas A4 impressas e presas por um agrafo. Demora. Olho distraidamente para uma fileira de livros em saldo, do meu lado direito, e vejo a lombada de dois exemplares seguidinhos de Annie Ernoux, Um Lugar ao Sol. Pego num e digo-lhes, a Annie Ernoux está aqui. Movimentação. Agitação. Ah, pois é. Olha que engraçado, é daquela colecção, pois é. Pois, está bem. E continuam procurando nas prateleiras. Pergunto o preço, porque os livros não estão marcados. Alguém atira, cinco euros. Podiam ter dito dois ou três, mas para meu mal saiu-lhes cinco. Deve ser o preço mínimo da Livros do Brasil. Continuam a conferenciar sobre Annie Ernoux. Demoro a pagar. Com um bocado de sorte pode ser que ainda encontrem o segundo título. Se lá voltar amanhã pode ser que já tenha aparecido.

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