Mulher-cão

A mulher-cão, Paula Rego

Uma grande amiga minha vai dar uma conferência, em Lovaina, sobre a mulher-cão na obra de Paula Rego. Fiquei toda contente, disse-lhe que a mulher-cão sou eu, e ela, para minha felicidade, confirmou.
O ano passado encontrei-me com uma leitora do ex-Mundo Perfeito cuja filha queria conhecer a mulher-cão (ver fotomontagem que constitui o banner do MP), ou seja, eu. Fez-me muitas perguntas sobre a vida quotidiana de uma mulher-cão, às quais respondi com muito agrado. Queria saber se eu podia falar com os outros cães, se podia pensar como eles, se também dormia no chão ou ladrava muito... Orgulho-me de ser uma mulher-cão, de haver uma criança que pode compreendê-lo, sem que tenha de explicar porquê. Não há porquê. Sou. Algumas crianças não estão ainda contaminadas por excesso de cultura humana, e para elas o mundo é realmente perfeito, sem tabus, pelo que é possível conversar com elas seriamente sobre este assunto. Podem compreender a minha dupla natureza.
Não suportar animais e só conseguir imaginá-los no prato seria amputar uma parte significativa da vida. Conheço pessoas assim, e parecem-me excessivamente tristes e rigorosas.
O que separa as pessoas que gostam de animais das que não gostam é uma questão subjectiva de cultura e educação, porque os animais são exactamente os mesmos.

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