Onde é que liberdade de expressão é um atentado ao pudor?

Na China, o tribunal condenou um grupo de cerca de vinte swingers a uma pena que agora não recordo, e no Malawi, um casal homossexual foi condenado a 14 anos de prisão. Se uma regulação jurídica desta ordem interferisse na vida sexual do Ocidente, remeteria milhões de pessoas para uma cela de prisão, o que, no actual estado de coisas, teria, eventualmente, seu lado positivo: criaria novos postos de trabalho e promoveria as obras públicas.
Não fumo, não me drogo, não gosto de apanhar sol nem de ouvir trance, mas é-me indiferente que outros fumem, consumam drogas, apanhem montes de sol e ouçam a música que lhes apetecer ouvir, desde que não me veja envolvida contra minha vontade - são direitos que lhes assistem. Passo a vida a dar este exemplo: os meus vizinhos do lado, no que me toca, são iguais pessoas quer pratiquem sodomia, quer não. É assunto que me interessa tanto como saber quando devem do empréstimo para o carro (admito que haja quem também goste de estar a par das finanças e posses dos vizinhos, mas eu nem sei se os meus têm carro).
O direito a uma vida privada e a agir nos limites da uma esfera de liberdades, individual e adulta, são ainda um luxo, em muitos lugares do mundo. E nem é preciso ir longe. Se vivesse em Mirandela ou Vila Real teria de prestar contas sobre a singularidade dos meus hábitos e existência, e, provavelmente, acumularia, já, um ou mais processos jurídicos para resolver - é que a expressão livre do pensamento continua sendo um atentado ao pudor. Há lugares onde pagamos um preço muito alto para nos darmos ao luxo de agir em liberdade. É por isso que eu, gostando muito dos passarinhos e das florzinhas do campo, não penso sair da cidade.

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