A porcaria das pessoas

Pelo que venho lendo na Imprensa, Facebook e blogosfera, atravessamos uma fase de sanha anti-pombo. As cidades cobrem as fachadas e monumentos de picos que desencorajam as aves; há quem as corra à vassourada; há mesmo quem as envenene ou assassine. No Facebook, um dia destes, chamavam-lhe "ratos".
Sou, graças a Deus, do tempo em que dávamos milho e pão esfarelado aos pombinhos, que vinham às centenas; eram tantas asas que ninguém nos via no meio da passarada nervosa.
Sou do tempo em que os pombinhos eram criaturas de Deus, tão inocentes, alegres, medrosos e afoites como crianças. Foi um tempo que, felizmente, durou muito tempo.
Os pombos não são ratos, precisam de comer, como nós, e na cidade há que recorrer ao que cai. Os pombos não transmitem doenças, apanham-nas dos humanos. O meu marido diz que o pior são as cagadelas. Que ainda ontem me tirou do arame uma t-shirt toda borrada de uns que fazem ninho no terraço e pousam no beiral por cima da varanda. Respondi-lhe que cagadela de pombo é cagadela santa, e que o que se suja, se lava. Gosto de pombos. Gosto de os ver voar a pique, dar de comer aos borrachinhos... A porcaria dos pombos não me incomoda. O que me incomoda é a das pessoas, muito mais diversa e fatal. Essa abunda e ninguém pensa em exterminar a fonte.

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