Seguranças privados: má-fé, arrogância e abuso de poder

O poder transtorna as pessoas. Dá-lhes uma falsa segurança de deuses. É aborrecido, porque não só não são deuses como nem sequer é absolutamente certo que precisemos dos serviços para os quais foram investidos de poder.
Falo dos profissionais de segurança, securitas, prosegur e afins, classe de serviçais imediamente acima dos taxistas, mas pouco, e cuja função consiste em desconfiar que somos ladrões, traficantes de droga ou terroristas do Bin Laden.
Enquanto perdem tempo tentando chatear-me porque não levo dentro de um saco de plástico transparente, de 15x15, o frasco de perfume, a bisnaga de dentrífico, o boião de creme de dia, o de desodorizante, uma embalagem de protector solar para rosto e outra de creme de pés, tudo em contentores já encetados de 50 ml ou menos, o passageiro ao lado safa-se com coca na sola dos sapatos, ou com material explosivo no forro do casaco.
Desconfiar dos produtos de beleza e higiene que transporto, porque não estão num saco de plástico, mas num necéssaire de pano, e de mim, enquanto criminosa de alto coturno, é realmente de grande utilidade para a segurança da aviação mundial. Quando me vejo a embarcar num voo da Tap, Lisboa-Funchal, no fabuloso terminal 2 do aeroporto da Portela também desconfio que eu possa ser terrorista da Al Quaeda. Tenho cara disso, tenho.
Passo a explicar o seguinte aos prosegures, respectivos chefes, e a quem os contratou para fazer serviço no terminal 2 do aeroporto, na quarta-feira passada, pelas 20 horas - sem qualquer esperança que compreendam o meu latim, sobretudo porque não vem em forma de normativo:
1. Depois de obrigarem os passageiros a tirar a tralha da mala, para de seguida exigirem um saco de plástico que têm de ir comprar a uma máquina fora dessa zona restrita, convém que arranjem um lugarzinho onde deixar o estendal do crime enquanto se adquire o extraordinário saco. Metermos tudo dentro da mala, de novo, retroceder, comprar o saco, ir outra vez para a fila onde somos tomados por terroristas, colocar uma segunda vez os objectos na bacia de plástico e tudo o que lhes parecer necessário, é serviço inútil, para não dizer estúpido - por favor não nos obriguem a seguir-lhes as passadas.

2. Se um passageiro alega não ter moedas para comprar os referidos sacos, agradece-se que indiquem onde podemos trocar uma nota, ou alguém mande ali colocar uma máquina de trocos ou arranjem, por gentileza, um stock de moedas. A resposta correcta para as arranjar não é "vá ali ao café e peça qualquer coisa", porque ninguém pode ou deve ser levado a gastar 1,25 € num café para arranjar forma de gastar 1 € em sacos de plástico. A resposta também não deverá ser "só no terminal 1", porque condicionar uma pessoa a deslocar-se, carregada, ao terminal 1, esperando por um autocarro, e regressando nele, quando o voo parte em meia hora...

Felizmente, por oposição à má-fé, arrogância e abuso de poder dos prosegures do terminal 2 do aeroporto da Portela, existe a simpatia dos agentes da PSP no gabinete ao lado. Vi-me, portanto, obrigada a entrar na PSP para pedir ajuda; os três agentes juntaram as moedinhas do bolso de cada um e trocaram-me a nota, ficando de acertar contras entre si. E mais, concordaram comigo quanto ao lobbie prosegur - máquinas de sacos - café para trocar moedas. Grande roubalheira em cadeia que ali se montou.

Este poste serve, pois, dois objectivos: agradecer aos agentes da PSP que me ajudaram sem hesitar, e lembrar aos lacaios da segurança que a ajuda aos passageiros e a boa educação também fazem parte das suas funções. E que o poder de que se sentem investidos não vale um carapau seco. Não lhes reconheço nenhum nem tenho medo deles. Na verdade, as únicas pessoas que ali têm poder são os agentes da PSP ou os comandantes dos aviões. Eles são apenas porteiros que remexem as malas de quem entra. Uma profissão que, sendo exercida por eles, se torna verdadeiramente mal cheirosa.

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