Um homem tem as suas necessidades

Há aqui no bairro uns senhores reformados que me vêem passeando com as meninas, quase sempre sozinha, e me cumprimentam muito e metem conversa. São realmente simpáticos, e vê-se que lhes agrada conversar comigo, que até se babam ligeiramente, que sabem apreciar as mulheres que tudo devem à abundância. Devo ser uma visão materializada das suas fantasias de juventude, quando uma mulher desejável devia apresentar argumentos suficientes para encher as duas mãos a um homem. Sou realmente um consolo para estes senhores, o que aceito alegremente, considerando que presto ao Estado Social um serviço de voluntariado na área do entretenimento.
De vez em quando, um ou outro ousa confiar-me intimidades. O discurso é sempre o mesmo. Ainda sou novo e saudável, mas o pior é que a minha mulher desde que tirou o peito/as miudezas já não se interessa por nada, e um homem tem as suas necessidades. Desculpe estar a dizer-lhe isto, não leve a mal, mas a menina, a menina ou a senhora?, a menina é muito bonita. Tem uns olhos e um sorriso... como é que hei-de dizer... vê-se que a menina deve ser uma pessoa muito doce. E eu tenho muito tempo livre, sabe? Vive sozinha com as cadelinhas? Ah, bom, bom. Pois é, não leve a mal dizer-lhe isto. E eu não levo, embora tome consciência de que este meu voluntariado tem os seus riscos. Gosto de ouvir os velhotes, de ajudar na medida do possível, mas apenas na medida do possível. Faço de conta que não percebo o que estão a propor, ou encorajo-os a procurar alguém que possa resolver o seu problema. O pior, o pior mesmo, é que os senhores deixam de me falar. No dia seguinte já não estão à porta do café à hora em que passo e desaparecem sem rasto.

Mensagens populares