Nódoa burra

Ontem, lembraram-me que a minha vida era de conhecimento público. Foi sobretudo um toma lá que já aprendeste. A minha vida ser de conhecimento público! Que golo tão ao lado!
Mas, meu amor, tu estás à vontade; entre as notícias que circulam por aí, escolhe a teu prazer. Constrói camada a camada aquilo em que te convém acreditar. Interessa que tenhas alguma coisa para contar, todas as sextas, ao jantar, à senhora séria, modesta, contida que te lava as camisas, as calças, as peúgas. Não presto. Sou uma desbocada. Não tenho pudor. Descarrilei a certo passo do caminho. Nunca seria mulher para ti. E, sobretudo, que acabámos por não foder. Isto, sim, deves reiterar sem medo que se torne repetitivo. Íamos fodendo, mas tinhas hora para estar em casa. O conforto do cativeiro.
Se te peço muita desculpa é porque acabou de cair uma norme nódoa de gordura frita do teu jantar mesmo ao centro do peitilho da minha blusa, entre as mamas que um dia tive, mas mandei cortar para te agradar, num futuro improvável. Já usei os solventes e detergentes adequados, esfreguei, pus a peça a corar, mas o amor é uma nódoa tão burra.

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