Paris - diário de viagem 2

Tão tradicionais como a foto da Torre Eiffel a partir do Trocadéro, os vendedores africanos de miniaturas de torres eiffeis, ignorando que o tempo dos souvenirs já passou.

O dia esteve coberto e abafado, com raríssimos momentos de sol. Em Portugal continua um calor insuportável. A minha mãe e as minhas cadelas preocupam-me a todo o momento.

Mudar de ares funciona como a música: acende-nos luzes no cérebro. Estava tão bem na minha casinha, mas aqui passam por mim milhares de pessoas diferentes e línguas inúmeras que não consigo identificar. A arquitetura é outra, bem como as ruas, as cores e os cheiros. Vim para quebrar a monotonia. Para parar.

No Cours de la Reine, um senhor que me observava sorrindo sozinha para o temporizador da máquina, ofereceu-se para me fotografar. Encolhi a barriga o mais que pude, encolhi, encolhi, aumentando o peito, e depois agradeci muito. A foto saiu um horror. Estou enorme, enorme. É preciso fazer algo quanto a isto, com urgência. Andar cinco quilómetros a pé, como hoje, ajudaria. Decisão para os dias futuros: ser menos preguiçosa - mas o meu bairro não é Paris, e detesto fazer sempre a mesma ronda!

Rue du Faubourg Saint-Honoré: eis o tipo de rua que não faz falta a ninguém, e que, contudo, tem procura. Qual a diferença entre uma t-shirt de algodão comprada numa loja honestazinha do centro de Almada e a que está na montra de Galliano? O material? O custo da mão-de-obra e dos transportes? Impostos? Não. Apenas centenas de euros. É a diferença de preço, aleatoriamente alto, que lhe atribui qualidade. Quem entra nas lojas do Faubourg Saint-Honoré procura preços altos. Pagar bem confirma a sua importância. A isto se resume todo o mundo da moda. Ninguém precisa de gastar muito dinheiro para se vestir de forma confortável e elegante. Os preços praticados, o luxo e a falsa cordialidade dos empregados atribuem às peças um valor que não têm. Apetece-me pedir prisão para quem vende por dois mil euros um objecto que vale 50. Mas considerando que há clientela desejando pagar o preço mais alto possível, que moral se pode aqui aplicar?

Na Place Chatelêt a happy hour vai das 19h00 às 20h30, sendo que as bebidas são mais baratas nesse período. Apesar do desconto, uma água de 33 cl custa 3,5€, e uma cerveja, 5. Pergunto a Gilbert por que são as bebidas tão caras, sobretudo a água. Explica-me que sobem os preços dos artigos mais baratos para que as pessoas não se sentem a consumi-los. Assim, ninguém ocupa a esplanada para beber uma água, ou, se o fizer, pagará o preço de uma cerveja. Subir preços para que ninguém se sente a consumir?! Que mundo, que mundo! E que estratégia infalível de combate ao alcoolismo. Piedade para os sedentos!


Cours de la Reine


Na Pont de l'Alma, zona onde morreu Diana de Gales, continuam a depositar-se flores em sua memória num monumento que não lhe diz respeito.

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