Como sobreviver

Um sobrevivente de Auschwitz viajou até ao campo de concentração com os filhos e aí dançou ao som de I will survive, apesar dos seus 90 anos. Segundo o Público de sábado, esta acção terá gerado consternação junto de instituições e personalidades singulares relacionadas com a salvaguarda da memória do extermínio. A mim parece-me uma extraordinária celebração de vitória e de vida. Há algo a aprender aqui. Um homem que sofreu uma existência desumana em Auschwitz, conseguiu ultrapassar esse universo de humilhação e dor, e alcançar os 90 com energia e espírito para dançar e cantar no próprio local onde sofreu.
Precisamos curar-nos do passado. O que aconteceu ficou retido nesse balão temporal, e se o trouxemos, faremos melhor em largá-lo. Não se trata de branquear a memória, de apagar a história, mas de lhe sobreviver, abrindo na consciência espaços de silêncio, sanidade e justiça nos quais nos refugiemos das agressões. Ali, ninguém nos poderá atacar. Ali, estaremos sós, mas seguros, por muito que, à nossa volta, tudo trema.

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