Desejo

1. Ainda estou a ler um dos meus livros de Verão, e a lista deve acabar lá para Janeiro, à velocidade que o empreendimento tomou. Não tenho culpa que o Verão seja curto.

A certa altura de Tudo o que Eu Tenho Trago Comigo, de Herta Muller, o narrador afirma "A Trudi Pelikan cheirava a pêssegos quentes, mesmo da boca, mesmo ao terceiro, quarto dia dentro do vagão do gado." E pensei, isto é o desejo - o cheiro orgânico de quem desejamos destacando-se acima da dor, da incerteza. As pessoas não sabem, mas eu também conheci o desejo com uma candura assim, nos dias em que o conheci.

2. Esta semana, numa aula, um aluno apresentava um trabalho sobre publicidade que apela à evasão, ao prazer, e passou, para o efeito, o anúncio televisivo de um perfume de homem no qual um jovem estala os dedos e uma mulher deixa cair a roupa. Um dos colegas comentou, "até parece que é mesmo assim, sem tomar banho nem nada". Preparava-me já para abrir a boca, mas lembrei-me, "cala-te, Isabela".

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