A mãe das minhas cadelas

O amor parece-me um vulgar jogo no qual os intervenientes se vigiam mutuamente a linguagem corporal, interjeições e qualidade das cartas.
Nunca pude compreender os homens que passavam serões nisso, zangando-se seriamente porque perdiam, porque alguém estaria a fazer batota. Não aprendi a fazer batota, não sei o que é um naipe, e refiro-me às cartas do baralho como fazem as crianças: parece um coração preto, parece um trevo, parece um losango... Neste momento não consigo evocar qualquer das designações. Só me ocorre a palavra ás. Só poderia jogar com um baralho cheio de ases, a única carta que compreendo, mas não deve haver nenhum jogo assim tão pragmático.
Se o amor é o que me parece - uma espécie de póquer adaptado aos relacionamentos, percebo agora como foi possível ter ficado para carinhosa mãe das minhas cadelas. Não sei fazer bluff. Sou uma deficiente social.

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