Não presto para nenhuma religião

No passeio matinal de domingo, com as meninas, passei pela igreja do bairro, como é costume. Junto à entrada, duas senhoras testemunhas de Jeová postaram-se no meu caminho, sorrindo, aguardando a minha chegada, uns metros à frente, para me esfolarem com os meus próprios pecados, e os do mundo, endereçando-me ao Inferno sem possível apelo. Fintei-as, desafiando as cadelas para o outro lado do passeio.
Não tenho nada contra a sua religião, mas pratiquem-na sem me incomodar, e, de preferência, noutro lado qualquer, porque me parece concorrência desleal virem publicitar o seu produto à porta da igreja, à hora da missa. Não me parece lá muito ético, é isso.

Esta semana, numa caixa de comentários do Facebook, alguém afirmava, a propósito da minha atitude antipornografia, que o meu pior defeito era ser moralista, entre outros, com os quais não me identifiquei. Respondi, afirmando que se ser moralista implicava possuir uma moral, eu o era, sem dúvida. Rejo-me por um conjunto de princípios de origem cristã, mais precisamente católica, e julgo, decido, avanço ou recuo de acordo com eles. Uma parte de mim é inegavelmente católica, porque a basezinha está lá. O Pai Nosso, a Avé Maria, os pecados mortais, o certo e o errado, enfim, toda uma ideologia com a qual nem sempre concordo, mas que me deixaria perdida se a arrancassem de mim à força. A ironia reside no facto de o catolicismo também não ver em mim outra coisa que não uma pecadora, a menos que me confesse, o que não manifesto intenção de fazer. Sendo essencialmente religiosa, cristã e católica, não presto, afinal, para nenhuma religião, porque convinha a todas que não lhes questionasse o absurdo de leis, regras e rituais, de maneira que me resta ser religiosa no recato das minhas quatro paredes, o que até não me parece mal.

Todo este arrazoado porque, ao julgar o procedimento das senhoras Testemunhas de Jeová, me perguntei se não estaria a ser moralista. É mesmo muito provável que estivesse.

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