Prefiro que me roubem a carteira no metro

Dizia eu ontem que não me importo de fazer sacrifícios, mas gosto de saber para quê. Sim, senhores, o barco está a afundar, tirem-me os anéis dos dedos, reduzam-me a ração, mas tenham a gentileza de me explicar para onde vai o meu pechisbeque e o meu caldo de ervas. Não vão atirá-los ao mar, pois não? Imagino que construam uma barcaça com o pechisbeque acumulado e paguem ao seus contrutores com a minha ração. Preciso de saber se vale a pena esperar ou se prefiro lançar-me ao mar abraçada a um madeiro, esperando que passe um navio com outra bandeira qualquer. Eu e os restantes milhões de pessoas que aqui no bairro estão a inventar maneiras de passar o Inverno sem ligar o aquecimento.
É que se o sacríficio servir para continuar a afundar, mas adiadamente, prefiro que me roubem a carteira no metro. Entrego-a voluntariamente às mãos dos carteiristas, e pelo menos vejo-lhes a cara. Estou cansada de ladrões sem rosto.

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