Chateio-te?

Por tua causa tenho medo de andar na rua. Por isso, se nos cruzarmos na bomba de gasolina do Jumbo, no mercado, no café tem a gentileza de fazer de conta que não me viste. Desvia-te de mim como puderes, ignorando a mancha do meu cheiro. Não é por ti, mas pela minha vergonha dos insultos que faço conta de te endereçar sem sossego. Não é que goste, mas tu tens merecido tanto. Até podes pensar, mas que tonta, de que vale isso, até eu posso pensar, que tonta, para quê. Não interessa. Tu não estás no meu mundo, tu não me beijas ao domingo de manhã no café, não me perguntas queres um bolo de arroz. Então, é por isso, vês?! Vou chatear-te, magoar-te enquanto puder, e à força lembrarás o meu rosto tão doce, capaz de esconder as mil ruminações que em silêncio preparo, e que contra ti lançarei à socapa, só quando me apetecer, porque estou aqui para isso. Se calhar pensavas que, tendo perdido, ia calar-me, domesticar-me, remeter-me ao silêncio dos vencidos. Não. Não direi que o objectivo da minha existência é infernizar-te a vida. Mas nos intervalos posso livremente chatear-te por desporto. Por desporto, não é absolutamente estúpido? Mas que tenho eu a perder? Nada. Pelo contrário, descobri que esta era a minha forma de, tendo perdido, vencer.

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