Os portugueses feios, escuros e baixos

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Em Portugal, as telenovelas são muito más. Os textos, de uma vulgaridade exemplar; as personagens, lineares e previsíveis, e a interpretação, regra geral, como se toda aquela gente andasse a fazer de conta que sabia da arte de representar.

Uma telenovela da TVI ganhou um Emmy nessa categoria, e a estação, bem como os intervenientes, trilham agora os caminhos da fama. A melhor novela do mundo, dizem eles. Margarida Marinho, hoje, no telejornal da 4, referia-se à importância da subida ao palco do grupo de representantes portugueses, do orgulho que foi para o nosso país, do orgulho que sentiu, nesse momento, em ser portuguesa.

Eu gosto de ser portuguesa todos os dias, mesmo quando não ganho prémio algum. Não posso dizer que seja um orgulho especial, mas gosto das particularidades do meu país, e não pretendo ter qualquer outra nacionalidade, a menos que me obriguem.

Os nórdicos são muito civilizados, mas não são latinos, o que significa, mais ou menos, que têm os seus defeitos. Somos tão bons como quaisquer outros, mas tendemos a não acreditar nisso, como se uma praga rogada no início da nacionalidade nos perseguisse.

António Lobo Antunes escreveu algures que ao chegar ao aeroporto reconhece de imediato a fila do nosso avião, porque somos escuros, feios e baixos. Eu não sou escura, feia nem baixa. Os portugueses não são todos escuros, feios e baixos, mas é natural que os portugueses bastante pobres, que se viram obrigados a ir ganhar a vida na estranja, tenham saído da terra natal feios e baixos, e escuros de fome. O António Lobo Antunes deve achar-se uma grande beleza.

Confesso que não reconheço tão facilmente a fila do nosso avião, no aeroporto, porque a vejo cheia de gente de muitas origens. O que eu conheço, e procuro, numa sala de aeroporto, é a minha língua. E quem a fala tem a minha atenção.

Eu gosto dos portugueses escuros, feios e baixos. Para mim até são bonitos. Falam alto, mas os outros também. São felizes e ignorantes como os americanos. Tristes, ansiosos como os franceses. Esperançosos como os africanos. Gosto dos portugueses porque são meus e eu sou deles. Não tenho nenhuma outra explicação. Só a do afeto.

Garanto que se conhecesse tão os bem os italianos como nos conheço também teria escrito dezenas de textos irónicos sobre a sua forma particular de agir e pensar.

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