Esperança

Admito, tenho uma adição e é grave. É o primeiro recurso que me ocorre quando me sinto frágil, acreditando que vou morrer. Há dias mais fáceis em que julgo ter-me livrado de um vício amargo que nada me traz, nem ar, nem alimento, nem esquecimento, apenas ilusão. Mas não, está sempre ali, rindo-se para mim com os dentes branquíssimos, um certo ar celeste. Volto-me, corro na sua direcção, ajuda-me, livra-me, não me fujas. E ele fica muito abraçadinho a mim como se eu fosse ainda uma criança. Estou aqui, minha querida, como poderia eu abandonar-te após todos estes anos de vida em comum?! E aquela voz dá-me segurança, ou seja, segura-me, e choro muito enquanto me abraça, beija e adormece. Tenho tentado esconder do mundo este vício tão fora de moda, tão sixties, que afinal se aguenta, se esconde bem, obrigando-me a um esforço grande pelos dias enfeitados a hidratos de carbono e doses extra de queijo e peperoni. Se ao menos me permitisse sangrar do nariz, se tivesse a gentileza de me deixar cair na valeta e partir a testa, insultar o patrão. Mas, calhou-me ser das que podem jurar que tudo no universo caminha para o lugar que lhe pertence, que é preciso saber esperar. E eu espero. Entretanto, venha uma dose de batatas fritas para a mesa nove.

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