Projeto de livro sobre Francisco Sá Carneiro para crianças com menos de 6 anos


Dou a conhecer aos leitores um projeto de livro para crianças que enviei hoje para a editora do PPD/PSD. Trata-se de um mero rascunho que poderei desenvolver caso interesse aos editores.

Página 1
Há muitos, muitos anos atrás, houve um senhor chamado Francisco Sá Carneiro que foi primeiro-ministro de Portugal.

Página 2
Ilustração colorida - multidão em manifestação de apoio, segurando cartazes onde se lê Viva a Aliança Democrática. Francisco Sá Carneiro, transportado em ombros por populares indistintos, faz com os dedos indicador e médio da mão direita o v de vitória.

Página 3
Francisco Sá Carneiro, nascido na cidade do Porto, era filho do senhor advogado José Gualberto Marques de Sá Carneiro e da senhora condessa Maria Francisca Judite Pinto da Costa Leite (nomes abreviados) e viveu numa linda casa com muitas criadas, tal como a senhora Sophia, grande poeta da nossa nação, que escreveu sonorosas composições literárias, como O Cavaleiro da Dinamarca, livro que poderás pedir aos papás para te lerem, ou às senhoras que tomam conta de ti no Centro de Acolhimento de onde jamais sairás, porque os papás que te geraram nunca autorizarão que tenhas família.

Página 4
Ilustração muito colorida - Francisco Sá Carneiro, Sophia, o pai José Gualberto e a mãe, condessa Maria Francisca Judite tomam chá com scones, conversando e rindo sob um caramanchão frondoso, rodeados de criadas saudáveis, de cabelo apanhado, vestidas de preto, com touca e avental branco bordados.

Página 5
Francisco era um senhor muito bom, casado com uma senhora muito, muito boazinha e amigo de uma outra senhora igualmente muito, muito boa.

Página 6
Ilustração colorida - Francisco Sá Carneiro abraçando duas mulheres muito bonitas. À sua direita, com um ar honesto, a senhora boazinha; à esquerda, com aspecto juvenil e endiabrado, a senhora boa.

Página 7
O senhor Sá Carneiro era um advogado muito sério e como todos os homens de leis sonhava com a vida política.

Página 8
Ilustração colorida, mas não em exagero - Francisco Sá Carneiro à secretária, com a testa enrugada, derruba um monte de papéis onde se leem frases como "proposta desonesta", "tráfico de influências e até mesmo de coisas, tipo diamantes", "dividendos mal explicados", "apadrinhamento de boys & girls", "privilégios para quem pode comprá-los" enquanto abraça e aperta contra o peito, com a mão direita, um punhado de outros documentos onde podemos ler facilmente "a bem da Nação", "justiça social e laboral para todos", "liberdade, democracia, progresso e bem estar", "Portugal e o Quinto Império", etc.

Página 9
Francisco teve muita sorte, porque permaneceu pouco à frente do Governo de Portugal, portanto não dispôs de tempo suficiente para se queimar.

Página 10
Ilustração mista (cores e cinzentos de acordo com indicações) - Uma lareira acesa com chama alta. À sua volta, todas em tons de cinzento, personalidades políticas destacadas apresentam queimaduras. Soares queimou as duas mãos; Cavaco chamuscou o cabelo; Guterres, um braço; Santana Lopes, pés e pernas até à cintura; Sócrates apresenta queimaduras gravíssimas por todo o corpo e encontra-se a ser assistido por paramédicos... Ao longe, a cores, Francisco Sá Carneiro, imponente e inexpugnável, aproxima-se a passos largos com uma balança tatuada num dos pulsos.

Página 11
A sorte acaba sempre. Houve um dia em que o senhor Francisco teve azar: apanhou um avião no qual um menino se esquecera de um estalinho de Carnaval que rebentou. O avião caiu e o senhor Francisco morreu, bem como a senhora boa que o acompanhava para todo o lado, e também outros senhores, todos muito católicos, logo bonzinhos. Há quem diga que o menino deixou o estalinho no avião de propósito. Ainda bem que essas pessoas não têm testes para corrigir nem a casa para arrumar, caso contrário nunca arranjariam tempo para se dedicar a histórias que tanta matéria dão aos jornais, muitos, muitos anos depois.

Página 12
Ilustração mista (cores e cinzas de acordo com indicações) - Avião caindo a pique, em chamas. Através das janelas, desenhadas num tamanho maior do que o habitual, como se se tratasse de uma aeronave panorâmica, avistam-se Sá Carneiro e a senhora boa abraçados em direção à eternidade e rodeados por um halo luminoso de cor rosa; os restantes senhores, todos de braços no ar, pouco nítidos, a preto e branco.

Página 13
Em Portugal toda a gente teve muita pena do senhor Francisco; mesmo muitos, muitos anos após o seu desaparecimento continuam a sonhar que regressará para governar Portugal e vender os pobrezinhos que vivem dos subsídios do Estado a uma fábrica chinesa de bandeiras europeias para jogos de futebol.

Página 14
Ilustração muito sombria - Fábrica chinesa apinhada de ex-subsidiados pelo Estado exibindo nódoas negras, olheiras e tatuagens onde se pode ler "Subsídio de Desemprego 2008-2010", "Enésimo Batalhão do Rendimento Mínimo - Amor para Sempre" ou "No tempo do Abono de Família é que era bom", e fabricando bandeiras portuguesas em série, como autómatos.

Página 15
Aprendam esta lição, crianças de Portugal, se desejarem um dia ser lembradas com saudade, quiçá homenageadas, e encher páginas de opinião e reportagem na Imprensa, durem pouco e deixem por realizar vagas promessas que nunca ninguém saberá se estariam habilitadas a cumprir.

Página 16
Ilustração a cores - Sá Carneiro descendo de uma avioneta azul clarinha numa manhã de nevoeiro, todo vestido de branco e dourado, como se fosse o Elvis Presley na fase decadente.

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