Quem és tu?

Há mais de uma década, uma aluna escreveu algo sobre eu parecer “uma pessoa triste”. Nunca me passara pela cabeça a possibilidade de ser transparente para alguém a quem não contava a minha vida, pelo menos diretamente. Pensei naquilo durante muito tempo
Voltei a lembrar-me do assunto ontem, quando dois alunos me perguntaram se ia passar este Natal sozinho. Respondi que tinha companhia e fitei-os sem perceber. Não se convenceram. Acrescentei, pensam que sou uma pessoa muito solitária, não é?! Sim, pensamos. O stor fala de si sempre como estando sozinho. Vai passar o Natal com quem?
Sorri mais uma vez. “Com a minha mulher, com familiares. Não é que não seja solitário, mas não passo o Natal sozinho.” Não lhes menti, contudo não lhes revelei toda a verdade. A verdade embaraça.
Em que parte de mim percebem eles tristeza e solidão? Tenho a piada tão fácil. Falo de mim como estando sozinho?! Não faço a menor ideia. Dou aulas sem pose, sem esforço. Lembro-me lá agora do que digo! Procuro falar de forma ordenada sobre os temas e textos que tenho à frente, mas é frequente ocorrerem-me ideias que não planeei. Não tenho nada de especial a revelar nem a esconder. Não sou especialmente sábio, embora goste de pensar. Não acredito muito nos meus ensinamentos, mas sei que posso aconselhá-los a ler, escrever ou pensar sobre uma crise, uma revolução. E esse trabalho, se o quiserem fazer, vai fazê-los crescer.
Talvez eu seja apenas o espelho do que sentem, do que já são. E nesse caso não sou eu que sofro a tristeza nem a solidão. São eles.

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