Votar em quem e para quê?

Manuel Alegre não tinha telhados de vidro, pelo menos conhecidos, até ontem. Escrever textos para a campanha publicitária de um banco, pagos à razão de 1500 euros a unidade, numa altura em que não recaíam suspeitas sobre a instituição, em nada afetava a sua credibilidade política. Até ontem, a campanha de Alegre ia aproveitando bem o favorecimento Cavaco/BPN.
O que Alegre teria a dizer sobre a publicidade ao BPP seria algo como, "recebi efetivamente dinheiro por participar numa campanha legítima", ponto final. Se o pagamento colidia com as suas funções de deputado, defender-se-ia como pudesse, "não estava alerta, pensei que direitos de autor não contassem", uma desculpa simples. O que estragou tudo foi a extrema elaboração da resposta: não tinha devolvido cheque algum à empresa publicitária ou, tendo-o devolvido, não o tinham aceitado. Uma mentira com perna tão curta que já foi alcançada pela exposição da sua declaração de rendimentos desse ano: o dinheiro entrou.
Foi pena ter mentido, porque perdeu uma bela oportunidade de disputar uma segunda volta com Cavaco, que, até este momento cauteloso, se limitou a responder que era honesto como uma pedra. Não deu explicações, não acrescentou, não alegou. Saber estar calado, em algumas situações, é uma ciência.
O que o eleitor terá de pesar, sobretudo no dia das eleições, é se prefere um Presidente da República metido em negociatas ou um mentiroso, e algo me diz que penderá para o primeiro.
Eu, que sempre me manifestei contra a abstenção, pondero a hipótese de não me acercar das mesas de voto. E pergunto-me, agoniada, como é que se chega ponto de pensar, "votar em quem e para quê?"

Mensagens populares