O doce odor da podridão

Não sei se já viajaram por países muito pobres, mais pobres do Portugal. Eu já. Estive na Índia, numa altura em que anda não se tinha tornado uma economia relevante, há quase 30 anos. Viajei por países de África e do Próximo Oriente como Marrocos, Tunísia e o Egito, nos quais o custo de vida era barato. É mais fácil viajar para estes destinos: gasta-se menos, quando há pouco para gastar. Os salários locais são baixos, logo, o preço das recordações, mesmo inflacionadas, torna-se acessível a uma bolsa portuguesa.
Tenho de confessar o meu pensamento tantas vezes eurocêntrico: como é que estas pessoas vivem? Como serão as suas casas?
Entretanto, li no Público que o turismo normalmente dirigido para o Egito e Tunísia, talvez venha a ser direcionado para Portugal, o que tem lógica. Temos praias, bom clima e, sobretudo, somos igualmente baratos, pobres, caóticos e guardamos, ainda, pelas ruas mais estreitas, o doce odor da podridão. Só nos faltam as pirâmides, os túmulos, mas em aflição conseguimos desenrascar os turistas que pretendem férias baratas e ao sol.
Como é que todos esses turistas nos imaginam, nos pensam? Exatamente como nós vemos os outros, os africanos, os indianos, os tunísinos, os egípcios: como é que estes desgraçados vivem? Como serão as suas casas? Somos pobres e isso une-nos.

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