Liberdade criativa, o caraças

O passatempo preferido do Simões é censurar-me a escrita.
- A menina desculpará, é só um reparo, mas não acha que a frase, e lê-ma, se pode prestar a equívocos?
Eu até fervo.
- Equívocos sobre quê, senhor Simões?
- Isabela, pense nos dissabores que tem tido...
- Desculpe, sr. Simões, é literatura... O senhor que lida com livros todos os dias, que sabe o que é escrever, tem a lata de me vir com uma moral à... com o que é próprio... com o que me convirá, com o que me será mais útil...
E depois lá vou, ferida no meu orgulho, eliminar a frase. Não é preciso fazê-lo, mas faço-o, porque o Simões me diz, a menina não devia magoar as pessoas. Mesmo sem querer, escute isto, mesmo sem querer.
- Não há ali nada para magoar. Aquilo não é o que pensa. No ano do incêndio do Chiado nem sequer...
- Seja como for, Isabela, a menina... Já lhe disse.
O Simões tem sobre mim um ascendente que não posso explicar. E lá vou eu emendar as referências equívocas, porque o Simões manda, porque o Simões é que sabe, porque eu aqui sou apenas a que lhe paga a percentagem, a que o atende ao telefone, a que lhe pergunta, o que é que acha deste ponto de exclamação? Estão tal mal vistos, não estão?!

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